MEU CABELO É RUIM
A afirmativa do título deste
texto é de propósito e tem a finalidade de trazer o debate do racismo velado
que acontece no dia-dia em nossa sociedade. E muitos não dão conta de como uma
simples afirmação se torna um tanto racista, pois o estereótipo de beleza
“padrão, perfeita, ideal” está inserido na mente das pessoas tendo como
referencial os aspectos físicos europeu. E isso não é por acaso.
Um vídeo no youtube que tem quase
9 mil acessos é protagonizado por um negro de cabelo “a la africano”. Ele
pergunta aos entrevistados: “meu cabelo é bom ou é ruim”? A resposta das
pessoas olhando aquele cabelo rastafári no estilo mais africano possível é SIM,
seu cabelo é ruim. E o negro faz outra pergunta: “O que é um cabelo ruim para
você”? A resposta de uma negra é direta: “é
um cabelo duro, que precisa alisar que dá trabalho”. Em seguida a repórter
pergunta para a negra entrevistada: Seu cabelo é bom ou é ruim? A
afro-brasileira responde na “bucha”. É ruim! E o repórter insiste: E o que é um
cabelo bom? “A negra afro-brasileira
segue dizendo é um cabelo liso que não precisa de química é só lavar,
balançar”.
E a reportagem segue. Numa roda
de várias pessoas, entre brancos e negros, o repórter faz a seguinte pergunta a
todos na roda: “O que o cabelo fez para ser chamado de ruim”? Várias respostas
foram dadas pelos participantes. “não sei;
Só por que ele é feio;porque já nasce ruim”. E aí uma resposta ecoa no meio
do vídeo. “é preconceito, um acha feio
aqui outro lá acha bonito”.
E as perguntas continuam na roda.
O que é um cabelo que nasce ruim? A resposta de um senhor branco aparentando
uns setenta anos foi direta. “é o cabelo
que veio da áfrica”. Um outro senhor aparentemente na mesma faixa etária de
idade responde: “é o cabelo de preto”.
Veja que as duas respostas estão relacionadas ao “modelo” europeu de beleza
produzindo um racismo as belezas peculiares dos negros africanos. Outro senhor
na roda diz: “aí não, aí é preconceito”.
Ao final do vídeo o ex-jogador de
futebol Dada Maravilha foi entrevistado no momento que comia um pão de queijo
numa padaria. E o repórter perguntou ao ex-jogador de futebol: Seu cabelo é bom
ou ruim? Dada, como um negro de estima elevada responde valorizando suas raízes:
“meu cabelo é o melhor do planeta terra.
Eu adoro meu cabelo”.
Portanto, senhoras e senhores, as
origens do processo de produção e reprodução do racismo remontam o contexto
histórico de afirmação da supremacia racial branca durante quase quatro séculos
em que o país conviveu com a escravidão, esse processo foi reafirmado em novas
bases após a abolição. A teoria do branqueamento reorganizou a leitura da
hierarquia racial na sociedade brasileira e a tese da democracia racial já se
fazia hegemônica reproduzindo a discriminação mais ou menos com mecanismos sutis,
restringindo o lugar social dos negros e operando mecanismos de exclusão.
Cada povo tem sua cultura,
demonstra suas belezas e peculiaridades naturais, não há um modelo que seja
melhor ou pior, mais bonito ou feio. Nos últimos anos ações no campo da educação
e no mercado de trabalho têm sido igualmente adotadas, visando limitar a
reprodução de estereótipos e comportamentos que afetam o acesso as
oportunidades iguais e a possibilidade de seu usufruto. Por isso temos
valorizar cada vez nossa cultura e história negra. Abaixo todo tipo de racismo
nesse país tão multicultural e povoado por diversas nações. E meu cabelo é duro
e daí? Meu cabelo é enrolado e daí? Não preciso alisar coisa nenhuma. Sou feliz
com ele da maneira como ele é, pois ele representa minhas origens e delas eu
não abro mão.
Charles Brasil
Coordenador de Raça e Etnia da Fasubra Sindical
Vice Presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial –
Compir
Rio Branco/Acre
Técnico Administrativo em Educação da UFAC